quarta-feira, 23 de março de 2011

Terapeuta ensina a assumir em casa com menos drama

Edith: o melhor é contar


A Junior 26 está nas bancas - com o delicioso Leandro Lima na capa - e trata de um assunto delicado e sempre urgente: como jovens LGBT devem se assumir aos pais. A gente não poderia ter deixado de conversar com Edith Modesto, doutora e mestra pela USP, semioticista e terapeuta especializada em diversidades de orientação sexual e de identidade de gênero.

Ela é a fundadora do GPH - Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais e iniciadora do Projeto Purpurina, que trabalha com jovens LGBT de 13 a 24 anos, todos em São Paulo. Na entrevista que a gente fez com ela, que você vai poder ler na íntegra abaixo, ela dá dicas valiosas para quem quer sair do armário em casa e diz que quem quiser pode procurar sua ajuda no GPH. Confira:

Existe um momento certo de contar? Como sentir este momento?
O relacionamento entre pais e filhos é muito complexo, pois a dinâmica familiar depende de vários fatores e é diferente em cada caso. No entanto, alguma coisa pode ser generalizada. Por exemplo, as/os jovens devem se assumir em primeiro lugar para a mãe. Depois, a mãe dará o tom, ajudando o pai e o restante da família. Além disso, os/as jovens podem sair do armário com mais possibilidade de sucesso quando pelo menos duas das afirmações abaixo estiverem satisfeitas:

a) Assumir-se, de preferência, quando o seu próprio processo de autoaceitação já está adiantado ou completo;
b) Assumir-se, quando você se apaixonou por alguém e precisa do apoio da sua família para namorar;
c) Assumir-se, quando você já é independente financeiramente;

Em qualquer dos casos, peça ajuda ao GPH (www.gph.org.br).

Como o jovem pode se preparar antes de contar?

O/a jovem deve ter em mente que a mãe/pai, família, desconhece totalmente a possibilidade da diversidade de orientação sexual e de diversidade de identidade de gênero. Assim, como está no meu livro "Mãe sempre sabe?", o processo de aceitação das mães é dividido em fases e o jovem pode se preparar para ajudar a mãe em cada fase desse processo.

Resumindo:

a) Garanta a ela, em primeiro lugar, que ser homossexual (LGBT) não é uma escolha, é uma condição natural do ser humano, como ser heterossexual.
b) Como as mães adoram se sentir amadas, diga que a ama e jamais escolheria causar-lhe qualquer desgosto.
c) Como as mães gostam de se sentirem necessárias, diga que precisa muito do apoio dela, o que não é mentira.
d) Você também pode garantir que ela não teve culpa de nada, já que é uma condição natural e espontânea.

Qual você observa ser o maior obstáculo para o jovem contar aos pais?
O maior obstáculo para o jovem se assumir para os pais é o medo de perder o amor e o respeito deles.

Quem aceita mais, a mãe ou o pai?
São tipos de aceitação diferentes: a mãe vai mais a fundo na questão, quer saber mais, discute mais, o processo é mais emocional, de modo geral. O pai é mais racional, tem muita dificuldade, mas, quando percebe que não tem volta, aceita como fato consumado e pronto. No entanto, a maior aproximação entre os filhos gays e suas mães é evidente.

Existe diferença nos problemas enfrentados pelos gays e pelas lésbicas jovens ao se assumir em casa? Quais?
A dificuldade de aceitação dos pais é semelhante na maioria dos casos. No entanto, antes de se assumirem, nota-se maior facilidade para as meninas, pois, como garotas, podem ficar mais próximas umas das outras, sem chamar a atenção.

E a melhor opção sempre é contar?

Sem dúvida! Viver vida dupla é muito difícil e traz muito sofrimento. Inclusive, pode trazer problemas psicológicos graves. E é muito difícil ser feliz, quando se tem de abdicar da família. Além de tudo, a gente pode se perguntar: como ser feliz sem poder ser a gente mesmo?

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