segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"É possível notar a homossexualidade na criança a partir dos 5 anos", diz psicólogo Pedrosa


O psicólogo e colunista do site A Capa, João Batista Pedrosa, lançou nesse sábado, dia 11, o seu segundo livro, "Garoto Rebelde - Surgimento da Homossexualidade na Criança", no shopping Frei Caneca, em São Paulo.

Em entrevista ao site A Capa, Pedrosa contou um pouco mais sobre este novo trabalho, que faz uma pesquisa sobre o comportamento sexual de homens gays de zero aos 18 anos de idade. De acordo com o psicólogo, os primeiros indícios de homossexualidade na infância surgem a partir dos 5 anos de idade.

Além destes relatos, Pedrosa faz uma revisão sobre a bissexualidade, a qual afirma ser "uma forma de expressão da sexualidade", e não "um tipo de orientação sexual". Confira abaixo a entrevista:

Primeiro, por curiosidade, por que o título “Garoto Rebelde”?
O nome do livro Garoto Rebelde é uma alusão aos meninos, hoje homens gays pesquisados neste livro, que já foram crianças. Eles não tinham domínio algum sobre o seu desejo e a sua orientação sexual. “Rebelaram-se” contra a orientação sexual majoritária - a heterossexual - e seguiram o caminho da homossexualidade.

Como surgiu a ideia de escrever o livro e quanto tempo demorou para finalizá-lo?
Na minha experiência de psicólogo clínico já atendi dezenas de gays e nos seus relatos ficava evidente que, desde a mais tenra infância, o desejo homossexual era despertado. Tive a curiosidade de pesquisar em que período de vida a orientação sexual homossexual é disparada. Na minha pesquisa, ela aparece em torno de cinco anos de idade. Já nesta idade aparecem os primeiros sinais. Demorei para finalizar o livro, entre a pesquisa e conclusão, dois anos.

Como se deu a pesquisa?
Foi levantado o repertório comportamental sexual de homens homossexuais de zero aos 18 anos de idade. Além de conter estes relatos, o livro possui também uma tabela dos dados coletados, bem como vários capítulos sobre a origem da homossexualidade, bissexualidade, entre outros.

O livro tem depoimentos de homossexuais na faixa de que idade? Eram seus pacientes?
Foram pesquisados 10 sujeitos com as seguintes idades: 29, 30, 32, 33, 34, 36, 40, 42, 44 e 65 anos. Só dois dos entrevistas eram clientes. O projeto de pesquisa foi submetido à consultoria do Centro de Estatística Aplicada (CEA) da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 2008.

Para você, como psicólogo, é possível notar a sexualidade na criança a partir de que idade?
Existem relatos que a partir de dois anos de idade. O psicólogo John Money (EUA) defendeu esta hipótese. No meu consultório, encontrei relato de cliente que a partir dos três anos de idade já sentia atração por homem. Minha pesquisa apontou a média de cinco anos de idade.

É comum crianças que já sofrem desde cedo preconceito por seu modo de se comportar demorarem, quando adultos, mais tempo para sair do armário?
Os meninos gays com trejeitos femininos são uma minoria. Eles sofrem mais assédio moral por serem efeminados. Na minha pesquisa e experiência clínica, concluí que crianças que foram criadas num ambiente homofóbico, controlado por contingências negativas punitivas, terão mais dificuldade em saírem do armário quando adultas. Então, sair do armário não está ligado a ser másculo ou efeminado, mas a um complexo contexto familiar e cultural homofóbico. Por exemplo, a criança que foi criada num ambiente onde se punia muito a homossexualidade – ambiente religioso - provavelmente terá dificuldade em se assumir quando crescer.

No seu livro, tem um capítulo que fala sobre a bissexualidade. Muitos entrevistados se consideram bissexuais? Como você analisa esse comportamento?
Todos os entrevistados eram homossexuais. Aliás, essa era uma condição para participar da pesquisa. Mas, neste livro, faço uma revisão sobre a bissexualidade, que não é um tipo de orientação sexual. A bissexualidade é um tipo de comportamento sexual atípico na medida em que não é comum entre as pessoas. Poucas pessoas se declaram bissexuais. Na literatura sempre encontramos dados sinalizando que menos de 2% da população apresentam de fato comportamentos bissexuais. Esse comportamento é mais comum em mulheres do que em homens. A bissexualidade é uma forma de expressão da sexualidade. É um tipo de comportamento sexual e não orientação sexual. Nos relatos dos homens bissexuais fica sempre evidente a sua inclinação para uma das duas orientações sexuais básicas: ou a homossexualidade ou a heterossexualidade. Só existem dois tipos de orientações sexuais, a majoritária reprodutiva - a heterossexualidade - e a minoritária não reprodutiva - a homossexualidade.

Um caso bastante curioso que ganhou espaço na mídia é o da filha da atriz Angelina Jolie, Shiloh, de 3 anos, que usa roupas de menino. Em entrevista, Jolie disse que a própria filha pede para que a vista assim. Pode ser um caso de homossexualidade já declarada na infância ou apenas uma fase?
Difícil tecer comentários sobre este caso sem ter mais dados sobre a criança. Por este pequeno relato, me parece mais um caso de Transtorno de Identidade de Gênero (transexualidade) do que homossexualidade.

A Capa

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